Renascimento
Quase um mês sem postar. Parece que sempre que tento manter um ritmo, a vida me dá um novo desafio. Mas desta vez, não foi apenas um obstáculo. Foi uma reviravolta completa.
Fevereiro veio como um vendaval. O proprietário da sala onde há anos construí meu espaço me comunicou que venderia o imóvel. Eu precisava sair. Respirar fundo. Processar. Buscar soluções. Comecei a procurar um novo estúdio. Visitei lugares, analisei possibilidades. Encontrei uma sala que parecia perfeita e iniciei os trâmites. Mas, no meio do caminho, surgiu a chance de dividir um espaço com uma colega tatuadora. Uma nova possibilidade, um novo caminho.
Porém, quando tudo parecia alinhado, a realidade se impôs: não haveria um contrato de locação, apenas um acordo informal. E naquele momento, eu entendi. Meu espaço precisa ser meu. Meu refúgio, minha criação. Não mais depender de terceiros, não mais ficar à mercê de mudanças inesperadas.
Foi então que uma nova visão tomou forma. Eu já estava reformando dois espaços para aluguel. Por que não transformá-los no meu novo estúdio? Um lugar perto de casa, perto dos meus filhos, sem aluguel, sem insegurança. Um espaço meu, onde cada detalhe refletisse minha essência.
O plano parecia certo, mas os prazos apertados me consumiam. A ansiedade crescia. O cansaço acumulava. E então, o corpo falou.
Naquela quarta-feira, após um dia de aula, comecei a perder a visão do lado esquerdo. Partes do meu campo de visão sumiram, substituídas por luzes brilhantes. Quando cheguei à portaria, não conseguia enxergar os rostos. Chamei um Uber para casa, mas no caminho, algo dentro de mim soube: isso não era apenas cansaço.
"Moço, mude a rota. Me leve ao pronto-socorro. Acho que estou tendo um AVC."
Meu lado esquerdo formigava. O rosto, o braço, tudo dormente. O medo tomou conta. Meu irmão teve um AVC há poucos anos. Eu sabia o que estava acontecendo. O motorista do Uber entrou comigo e ficou ao meu lado até meu filho chegar.
Fui atendida imediatamente. Uma cliente querida, que trabalhava no hospital, segurou minha mão o tempo todo. Fui transferida para a Santa Casa, onde fiquei internada. Lentamente, os sintomas começaram a regredir. A visão voltou. O formigamento passou. O diagnóstico: um AIT – um AVC transitório. Um alerta. Um aviso.
O que poderia ter acontecido se eu não tivesse escutado meu corpo?
Agora, duas semanas depois, ainda estou em tratamento, sem sequelas. Os primeiros 30 dias são os mais críticos, mas com o tratamento, os riscos caem. Estou aprendendo a respirar, a pausar, a cuidar de mim com o mesmo carinho com que sempre cuidei dos outros.
Este episódio mudou tudo. E eu decidi mudar junto.
A nova "Casa na Árvore" será mais do que um estúdio. Será um santuário. Um espaço onde cada tatuagem será feita com tempo, respeito e dedicação. Um, no máximo dois clientes por dia. Quero que cada pessoa que passe por minhas mãos sinta o cuidado e a intenção por trás do traço.
A ansiedade ainda aparece. Mas agora eu respiro. Medito. Me conecto com esse novo momento.
Minha agenda reabre no dia 13 de março. E quero vocês comigo nesta nova fase. Vamos juntos. Com calma, com propósito, com transformação.
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